MÁRCIO VASCONCELOS NO PARATY IN FOCO




NOME
Zeladores de Voduns
SOBRE O TRABALHO
A saga de Nã Agotimé é pura magia. Representa a força dos elementos naturais transformando a vida que se transforma em culto. Desde tempos imemoriais se cultuava os voduns da família real do Daomé, hoje Benim. Um Clã mágico e místico iluminava o continente negro, quando a África foi conturbada por guerras tribais em busca do poder. Muitos reis se sucederam e Daomé, que era apenas uma cidade, tornou-se um país. No palácio Dãxome, reinava Agongolo. O rei tinha como segunda esposa a rainha Agotimé e dois filhos (Adandozan, do primeiro casamento, e Gezo, nascido de Agotimé). No momento de sua morte, o rei elegeu seu segundo filho para sucedê-lo no trono, mas a sua ordem foi desconsiderada e Adandozan assumiu o trono como tutor de Gezo. Abomey tornou-se vítima de um governo tirânico e cruel. A rainha era conhecida em seu reino pelas histórias que contava sobre seus ancestrais e sobre o culto aos reis mortos. Guardava os segredos do culto a Xelegbatá, a peste. Detentora de tais conhecimentos, o novo rei tratou de mantê-la isolada, acusando-a de feitiçaria, e não hesitou em vendê-la como escrava. Em Uidá, grande porto de venda de escravos, Agotimé foi jogada nos porões imundos de um navio e trazida para o Brasil. O sofrimento físico da rainha, traída e humilhada, era uma realidade menor, pois o seu espírito continuava liberto e sobre as ondas a rainha liderou um grande cortejo, atravessando o mar. Desse episódio se forjou um dos elos que une a África ao Brasil.






Chegou ao novo continente um corpo escravo, mas um espírito livre, pronto para cumprir a sua saga e fazer ouvir daqui o som dos tambores Jejes. Seu primeiro destino foi Itaparica, na Bahia, porto do seu destino e terra santa do conhecimento. Vinda de uma região onde poucos escravos se destinavam ao Brasil, Agotimé se deparou com muitos irmãos de cor, mas não de credo. No seu encontro com os Nagôs teve o seu primeiro contato com os Orixás, e através deles a Rainha escrava teve notícias de seu povo. Por eles soube que sua gente era chamada Negros-Minas e foram levados para São Luís do Maranhão. Contaram que não tinham local para celebrar o seu culto, pois esperavam um sinal de seus ancestrais. Agotimé logo entendeu por quem esperavam. Dessa forma a rainha chegou ao Maranhão. Terra da encantaria e de forte representação popular. Os tambores afinados a fogo e tocados com alma por ogãs, inspirados por velhos espíritos africanos, ecoam por ocasião das festa e pela religião. Foi no Maranhão que Agotimé, trazida para o Brasil como escrava, voltou a ser Rainha. Sob orientação de seu vodum, fundou a \”Casa das Minas”, de São Luís do Maranhão, em meados do século XIX.




Para contar essa história, trilhando caminho inverso ao de Nã Agotimé, e com uma exposição fotográfica sob a forma de retratos, o fotógrafo maranhense Márcio Vasconcelos viajou ao Benin acompanhado do antropólogo africano Hippolyte Brice Sogbossi. A proposta do Projeto era de realizar uma pesquisa e documentação fotográfica da atual situação de terreiros e seus respectivos chefes no Benim e no Maranhão. Para tanto, foram entrevistados e fotografados personagens de reconhecida importância no cenário do culto aos voduns, com a finalidade de traçar um paralelo entre os Sacerdotes africanos e os Chefes de Terreiros do Tambor de Mina do Maranhão. No Benin, num período de 25 dias, foram visitadas as cidades de Cotonou, Abomey, Allada, Ouidah, Calavi e Porto Novo.
SOBRE O AUTOR
Márcio Vasconcelos A fotografia, assim como outras áreas das artes visuais, também faz uso de rótulos. Com frequência, porém, as estéticas da fotografia documental e publicitária, do fotojornalismo e experimentalismo se misturam. Por isso, catalogar a obra de um fotógrafo contemporâneo pode diminuí-la. É o caso do sério e vasto trabalho do fotógrafo maranhense Márcio Vasconcelos na documentação de manifestações populares, religiosas e do folclore brasileiro. Vasconcelos extrapola os limites da chamada fotografia documental. São trabalhos com forte influência da antropologia e com grande apuro estético. Alexandre Belém – Fotógrafo, editor do site Olhavê e do blog Sobre Imagens da Revista Veja.
Hippolyte Brice Sogbossi é beninense e radicado no Brasil há mais de 10 anos. Doutor em Antropologia Social e professor da Universidade Federal de Sergipe. O Projeto “Zeladores de Voduns e outras Entidades do Benin ao Maranhão” foi premiado no Edital de Apoio à Produção Cultural/2008 da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão e vencedor do 1º Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras promovido pela Fundação Cultural Palmares – MINC. Este trabalho também foi selecionado para leitura de portfólios no Trasatlantica/PhotoEspaña 2012.




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